domingo, 25 de março de 2012

Inveja

A maternidade, melhor dizendo, a gestação traz as melhores, mais complexas e indescritíveis sensações que uma mulher pode ter, isso sem contar o maravilhoso resultado final, filhos que amamos tanto. Mas, como sempre, há no pé da página algumas cláusulas em letras miúdas, quase ilegíveis, que só entendemos depois que já não tem mais volta.
Afora algumas mulheres abençoadas - e invejadas e odiadas - que possuem o metabolismo de um coelho, tendências anorexígenas ou o lindo hábito de exercitar-se, gestação é um caminho largo, uma avenida de muitas pistas, rumo ao embagulhamento. É o passaporte para tornar-se uma frequentadora daquelas seções de roupas que antes olhávamos com ares de reprovação.
A conversa aqui é meramente estética, não me venham as puritanas de plantão discursarem sobre ônus e bônus, falo tão somente do meu e de muitos outros egos. Falo de barrigas chapadas, bumbuns arrebitados, seios que não prendem uma blusa e outras coisas que moram no nosso passado. No meu, ao menos.
Não me interessa se "estou-bem-para-quem-tem-dois-filhos". Não conheço mulher (sincera) no mundo que contente-se com essa esmola, meu parâmetro são as sobras: de contornos, de quilos e de roupas aposentadas.
A ideia não é chamar a atenção de homens, pois além de ter O meu, os demais são deveras sem critério, aí estão as muitas mulheres frutíferas que não me deixam mentir: são melancias, jacas e outras tantas de grande porte. Mulheres, elas são o parâmetro.
Saudades de fazer inveja, de ter crises de falsa modéstia e de ver narizes torcidos ao reclamar do peso, de uma suposta barriga ou qualquer outra queixa social, só para me colocar no assunto. Saudades de suscitar aquela duvida cruel, "como ela faz para ter esse corpo???", de me olhar no espelho com orgulho e de me sentir irresistível com determinada roupa.
E não venham me dizer que também não querem isto. Eu invejo quem tem!