quarta-feira, 16 de outubro de 2013

... e lá se foi!

Assim voam as coisas, e é incrível o quão próximas elas parecem quando olhamos para trás. Uma data de mil novecentos e noventa e poucos, e uma cara estupefata quando, em segundos, fazemos os cálculos de quantos anos passaram desde que o filme foi lançado, que aquela música fez sucesso ou o tanto de idade e responsabilidades já tínhamos há tanto tempo atrás. Mês passado era meu coração adolescente partido a queimar meu peito, há pouco mais de uma semana provas mil da faculdade a me enlouquecer e ontem a felicidade da vida de recém casada em nosso apartamento alugado de um quarto. Passam horas e vem a primeira filha, em instantes aprende tanto, logo ganha uma companheira, e há meia hora as duas já se governam para muitas coisas que, cerca de uma hora atrás, não faziam ideia. Vai a vida, a toque de caixa, sem replay, olhos atentos e coração aberto, pois ela passa sem avisar.

sábado, 6 de julho de 2013

Coração Ferido

Morei toda a minha infância no subúrbio, ir ao centro era um evento. A maioria das vezes só passava pelos lugares mais famosos, era sempre muito para se fazer, pouco tempo para dar voltinhas.
Um dia, não me lembro que idade eu tinha, fui levada pelo meu pai em uma sorveteria que ele ia quando criança. Era dentro do Mercado Público. Não gostava muito daquele lugar, era cheiro de peixe por todos os lados, gente por todos os lados. Deveria ter algum tipo de portal na entrada da sorveteria, comi um sorvete com nata (na ocasião achei estranho aquele sorvete que não era gelado, embora fosse delicioso) em um pratinho saído de algum lugar do passado, acompanhado por um pequeno copo d'água.
Demorei muitos anos até voltar ao Mercado. Nesse meio tempo, ele foi reformado, modernizado. Quando comecei a faculdade era ali ao lado que pegava o segundo ônibus da jornada, certo dia resolvi entrar e procurar a tal sorveteria.
Já não havia mais tanto cheiro de peixe, no corredor central havia uma fila aromática das mais diversas ervas, penduradas em bancas em que não se via a estrutura, tamanha era a fartura de artigos, comandadas por homens sempre dispostos a elevar a autoestima de quem por ali passava. Ao centro, uma segunda Esquina Democrática, um quadrilátero de queijos, presuntos e todos os outros fiambres existentes, embalados com o mesmo papel pardo e cordão de tantos tempos atrás.
A sorveteria seguia lá, com as mesmas taças, delícias e copinhos d'água. Pretos-velhos, erva-mate, vinhos, chocolates, utensílios, patuás, produtos naturebas de toda ordem, doces, salgados, frutas, flores, peixes, cafés - ah, o café...!
Não achou em nenhum lugar? Deve ter no Mercado!
Ah, mas isso tu não acha em nenhuma outra loja, só tem no Mercado...
É o coração da cidade, feito de tantos corações. Já anteriormente ferido, maltratado, revitalizado, que novamente tem suas coronárias testadas. Mas ele é forte, pois é feito de povo e de muito amor.

Originalidades felinas

Funciona mais ou menos assim: não importa o que você pensou, planejou, o quão pertinente ou necessário seria, a decisão final é deles. Filhos? Não. Gatos.
Casais sem filhos tomam a equivocada decisão de adotar um cão (depois de fracassarem com o vasinho de violeta) para testar seus talentos como pais. Pois deveriam adotar um gato! Filhos não obedecem, nem sempre são tão companheiros e não serão todos os dias que "abanarão o rabo" quando você chegar. Não falo isso com ressentimentos - tanto em relação aos filhos, quanto aos gatos -, só seria válido um treino mais real.
Pois voltando aos felinos, é uma versão piorada das crianças. Sabe quando você compra um brinquedo, e a pessoinha pega a caixa? Eles sempre pegam a caixa, não importa se o brinquedo era deles, se o sapato era seu ou se o leite era da família.
Caminha para dormir? Esquece. Todo ou qualquer lugar ao sol, seja sobre a mesa, sobre o pano de prato branco (este está no Top Ten), na frestinha da janela ou no meio de qualquer duas pessoas que se amam; se não for no meio não tem graça. Caverna de edredon, travesseiro, roupa do dono - principalmente sendo o oposto da cor dominante do bichano. Vale também toda e qualquer parafernália elétrica que produza algum calor.
Madame Nora, insatisfeita com a tecnologia que encolheu televisores e monitores aqui de casa, resolveu pousar seu corpanzil negro por sobre o roteador, o minúsculo roteador. O apreço pelo computador, aliás, é tremendo, pois nada mais divertido que parar em frente a tela (em uso) ou entre o teclado e o digitador.
E ali está ela, parada qual e tal um totem informático, rabo para um lado, antena para o outro, diferenciada somente pelas luzinhas verdes que piscam sob o seu traseiro. Pode passar horas ali, negando ofertas sinceras de colo, afinal, as coisas são quando e como ela quer. Mas o que mais autêntico e cativante que uma criatura cheia de personalidade?

terça-feira, 18 de junho de 2013

17 de junho de 2013

Ontem foi um dia muito importante, daqueles que só acontecem uma vez na vida. Para mim, o aniversário de quatro anos da minha primeira obra de arte, dona Helena, seus lindos olhos verdes, cabelos loiros e toda a esperteza de que se há notícia.
Muito provavelmente, daqui alguns anos, esta data ainda apareça nas buscas pela internet (ou seja lá o que haverá no futuro), mas pelas inúmeras manifestações Brasil afora. Vai constar como o dia em que o povo foi às ruas, que o país acordou ou algo deste gênero.
A queixa inicial era o preço da passagem, tendo começado todo o movimento pelas bandas do sul: preço subiu, povo parou a cidade, preço desceu. Outras passagens subiram, mais povo às ruas, as verdadeiras razões se agregaram, as massas se avolumaram, o país parou.
Vencida a lorota da imprensa dominante, vieram as verdadeiras queixas: dinheiro sem limites para as obras da Copa, altos salário dos políticos vs. as tantas e infindáveis carências do Brasil - saúde, educação, salários dignos, transporte público, etc, etc e outros tantos etc.
Não tenho absolutamente nada contra os protestos, não creio que o país devesse ser sede de coisa alguma, certamente falta muito recurso em todas as áreas. Porém, e sim, porém, as coisas são muito melhores do que foram em outros momentos de gastança.
Juscelino fez Brasília. Um elefante branco, no meio do absoluto nada, que serviu para dar emprego aos muitos candangos e para gastar cerca de 1 BILHÃO de dólares. Como era no meio do nada, praticamente todo o material veio de avião. Analfabetismo na época? 16%, hoje é a metade.
Médici começou - e ninguém terminou - a Transamazônica. Aproximadamente SETE BILHÕES de dólares, um bom punhado de gente morta, para um arremedo de estrada que em sua maioria nem asfaltada é, motivo pelo qual passa intransitável metade do ano. O pib do país era US$ 35 bi (atualmente é de 239 bilhões). Obviamente ninguém saiu para protestar, era ditadura, não se voltava para casa para contar o acontecido.
Resumo da ópera? Muito provavelmente as pessoas que realmente movem o governo - vereadores, deputados e senadores - eram a mesma maioria que são agora: elitistas, filhos de coronéis, de empresários, povo de dinheiro, que eleição sim e outra também, se elegem pelo voto desse mesmo povo que sai às ruas. A pessoa da vitrine muda, mas os bastidores, não. Não adianta eleger um presidente do P-Sol e colocar o neto do ACM - e todos os seus coleguinhas de escola particular - no mesmo saco.
Só colocar a cara na rua não basta. Tem que colocar a cabeça para funcionar.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Bia fala, como fala!

Do alto dos seus quase dois anos, dona Beatriz fala pelos cotovelos! Da esperteza nunca duvidei, o fato é que ela anda a verbalizar aos montões, não tenho nem como fazer-me de desentendida.
As palavras surgiram logo cedo, sempre para facilitar a sua vida, visto que o primeiro verbete foi "teta" (na época ela usava bastante!), as que se seguiram não lembro da ordem, mas sempre foram abundantes. Das necessidades básicas, seguiram-se as repetições, e assim seguimos.
Agora andamos por outra etapa, temos frases, raciocínios e tantas outras gracinhas. Ah, ordens, muitas ordens! Ama o imperativo: pega! sai! me dá! e por aí vamos. Nem sempre é o momento de rir, mas vontade sempre dá.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Amores de mim

Então isso é o que vale.
As pequenas coisas que fazemos para as pequenas pessoas da nossa vida.
Todas as vozes ridículas nas historinhas, as danças malucas, fantasias inventadas, penteados arrojados. As inúmeras comidinhas, todo o mundo "de continha", as músicas infinitamente repetidas, histórias no vale a pena ouvir de novo diário - noturno, melhor dizendo.
Investimentos pagos em sorrisos, risadas, abraços e frases (para quase todos) inintendíveis. Bônus do ônus é ver alguém que não bate nem na sua cintura imitar seus diálogos, dar uma bronca na Magali usando todas as suas palavras. Sim, elas ouvem e entendem tudo.
Mágico é poder ver aqueles dois pedacinhos de você crescendo, não cabendo mais nas roupas, colocando uma sandália, abrindo uma garrafa, perguntando o por quê de algo que você achava que elas nem sabiam que existia.
Momentos assim nos fazem ficar simplesmente admirando nossa obra. Ficar escondidos espiando pela fresta da porta, só para poder entrar um pouco naquela brincadeira, para ver quem é a mãe, quem é a filha, curtir as caras e bocas.
E, ao fim do dia, quando entrar no quarto e vê-las dormindo, ter certeza de que são Anjos que a vida nos deu.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Hipocrisias

Olha, as pessoas estão todas muito irritantes e pedantes. Não digo isto somente por não concordar com o que dizem grande parte do que os que se dizem informados (pela Veja, pela Globo, pelo Terra, etc). É pra falar de mudança de ideais e de atitudes? Hum, tá, o Fernando Henrique foi sempre de direita? Ah, não, pera aí, foi exilado, e disse, em algum momento, que aquilo era passado ou algo desse tipo. Não acho corrupção bonito, nem acho que não seja praticada por quem está no poder agora, mas atentem bem: ela não foi inventada pelo Lula, pela Dilma ou por seus companheiros, ela vem de muito tempo, de muitos séculos, desde quando esse mundo quase não era mundo.
A gasolina sobe é ruim. Lembro muito bem de ficar horas numa fila infindável de fuscas, brasílias e corcéis, e não era uma ou duas vezes por ano, eram muitas. Mas isso era normal, o preço de hoje não era o de amanhã, e não venham dizer que o salário acompanhava esse aumento.
Pessoas se indignando porque a presidente não faz nada em relação aos que morreram em Santa Maria? E quando o governo matava as pessoas, aí podia? Tortura, pau de arara... Não aparecia, né!? Ah, não, não tinha Face, até porque, quem escrevesse, ia meio que desaparecer no ar.
Não sou a pessoa mais politizada do mundo, mas essa inteligência seletiva me irrita um bocado. Falem de tudo, ou não falem de nada.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Last Kiss

Sim, a resposta é sim.
Poderia ter sido eu, minha vizinha, meu namoradinho da faculdade.
Poderia ter sido a Festa dos 100 dias da minha turma, poderia ter sido a comemoração por ter entrado na Universidade, poderia ser a balada de fim de semana.
Poderia ter sido uma amiga, dez amigos, um  primo, uma tia, um irmão, um filho.
E foram.
Muitos filhos, algumas mães.
Muitas chamadas não atendidas, mensagens de caixa postal.
Não do outro lado do mundo, aqui ao lado.
Suficientemente perto para ver os helicópteros chegando e trazendo sofrimento, para ouvir o som agourento das hélices, o grito das ambulâncias.
Próximo o bastante para a nuvem negra esmagar o coração, tirar o ar e encher a alma de lágrimas.
Por isso ame.
Hoje, não amanhã.
E diga. E demonstre. E acalante. E afague
Passe no quarto e veja que sim, as camas estão todas ocupadas.
Que, mesmo triste, seu coração segue batendo.
Então agradeça.
Foto: Giordana Motta (Avenida Osvaldo Aranha, Porto Alegre, Brasil)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Figurinha repetida

Clichê.
Sim, Gramado sempre soou aos meus ouvidos como um passeio repetido, algo que se fazia quando não havia nada melhor. Comida repetida, sabe?
As experiências de infância não traziam nada demais a minha mente, era um lugar feito de coisas caras, com casas bonitas, bem verdade, mas que para qualquer diversão diferente pagava-se. Não era interessante, provavelmente por nunca ter participado muito desse mundo bem pago.
Pois bem, aqui estamos. Gramado, Rio Grande do Sul, Brazil! Nossa cidade exportação, Natal, Páscoa, Festival de Cinema e inverno para nem todos.
Vi um filme, certa vez, que falava que sabemos se um restaurante é bom pelo seu banheiro. O que dizer, então, de uma cidade que tem um banheiro público - gratuito - mais limpo que os dos shoppings da minha cidade?
Hotéis e mais hotéis, pousadas, albergue, restaurantes, mirantes, parques. E organização. E limpeza. E boa educação! De todos, desde a recepção do hotel até a criança que brinca na praça. Automática, cultural, intrínseca. Nem sempre vai ser preciso pedir informações, com sorte alguém pode ouvir enquanto caminha na rua e responder, antes mesmo que você pergunte.
Não é um lugar para economia, tampouco para achar grandes promoções. Turismo diferenciado, preços diferenciados. Requer tempo e algum dinheiro; muito ou nem tanto, depende onde irá dormir, comer ou passear.
Ainda não conheço - mesmo que, provavelmente, haja - alguém que tenha reclamações sobre o atendimento, a estrutura ou outras características turísticas do nosso pedacinho da Europa. Este é o ganha-pão da cidade, muito levado a sério e bem feito, para deixar aquele gostinho de quero mais.
Fico pensando se pelo mundo afora as cidades turísticas são assim. O caso é que Gramado sabe ser única e especial, dá vontade não só de voltar, mas de ficar!
É clichê. É a lua de mel, o passeio de formatura, a excursão dos professores. É o nosso pedaço do Rio Grande mais globalizado (aí está o Parque Gaúcho, com a sua tradução do que é um vazio, que não me deixa mentir), mais teatral e mais internacional.
Só é assim porque nos convida a voltar.
Gostei de ser clichê.