quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

R.I.P.

E se finalmente o homem descobrisse como viajar no tempo, para onde você iria? Ou voltaria?
Para mim? Uma passagem de ida e volta ao meu velório, por favor.
Não é nenhum tipo de palpite sobre minha morte, não é curiosidade mórbida sobre o quando, tampouco sobre o como. É um parâmetro sobre a minha vida.
Aniversários, casamentos, formaturas, jantas de final de semana cheios. Mas e o final?
Quando você não puder dar nada em troca?
Quantas pessoas vão se aglomerar no horário de visita do hospital?
Quantas cadeiras vão sobrar ao redor do meu caixão?
Quantas histórias e quantas risadas serão dadas?
Qual o tamanho do vazio que irei deixar?
Quantas rosas, quantas faixas, quantos sinceros descanse em paz?
Sim, quero muitas pessoas, preferencialmente de bengalas, celebrando a vida que tive, os papéis que desempenhei, as almas que toquei. Rindo das minhas mancadas, aprendendo com meus erros, fazendo com excelência o que fiz de forma medíocre.
Quero fila para uma última olhada, falta de lugares para sentar, gente encostada na cerimônia do lado, par ou ímpar para decidir quem vai me carregar. Acima de tudo, quero que todos se divirtam pensando o que eu diria disso tudo.

Minha meta: viver por um (muito distante) velório cheio.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ei, você aí

Não sou dona da razão, nem das minhas próprias, o que dizer então dos saberes comuns. Porém, parece que perdi algum capítulo, pois Deus deve ter distribuído secretamente alguns títulos de onipotência mundo afora. É muito fácil ficar eternamente estagnado no nosso porto seguro, onde sabemos tudo (?), onde temos o domínio da situação. Figurinha carimbada.
Até que um dia - pois assim é a vida -, aparece algo que não dominamos, uma pergunta fora da rotina e lá se vai toda a sapiência. Voltamos ao posto de reles mortais, imperfeitos e com um abismo de dúvidas. E aí apresentam-se os caminhos: o da humildade, em reconhecer que ainda há o que aprender, ou o da soberba, empinando o nariz, levantando o crachá de Sabe-Tudo e fazendo-se de surdo para as vozes da razão.
Adaptação. Capacidade de. Isso faz o nosso ser ser humano.
Há mais de ano perdi o endereço da minha zona de conforto. Tenho andado para longe dela, respondendo muitos não sei, não com orgulho, mas com franqueza. Já planejei, desisti e, quando achei que a estrada levaria para o certo, veio o duvidoso. E lá vamos nós novamente, rumo ao desconhecido, a dúzias de "vejo em casa e depois te digo", de "tu pode me dar uma ajuda aqui?", de "a de antes sabia como fazer", bem para longe do meu estoque de respostas.
Navegar é preciso.
Para quem fica ancorado, deixo um aceno educado, e o lembrete de que a tempestade não passa somente em alto mar.