quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Feliz 2017

Estava aqui assistindo um especial sobre a vida/morte da Cassia Eller. Lembro exatamente da notícia da morte: estava no litoral de SC, primeira vez que ia passar o reveillon com a família do então namorado, na varanda da casinha de madeira, disseram na tv que ela havia morrido.
Ciclos.
Uns mais longos, outros mais curtos, mas em comum o fato de só os sabermos quando estão no fim. Não sabemos o que eles irão conter, quanto irão durar, se serão bons, ruins.. Só os reconheceremos quando estiverem se fechando.
É aí que olhamos para trás e pensamos: deu! Semana que vem já não será mais assim. Semelhante àquele livro que lemos, devoramos, mas, que quando acaba, deixa a sensação de alívio misturada ao vazio. E agora?
Esse ciclo que iniciou em 2001 durou bastante tempo, com algumas pausas, mas em 2015 com um fim... E lá veio o início de um outro, transformação total, 2016 com um misto de finais e inícios de microciclos, mas um dia as coisas se acertam, e dali em diante parece que a vida encaixa...
Hoje se fecha mais um ciclo. A última noite de nós três na "primeira segunda casa", aquele lugar que será lembrado como a minha primeira casa - realmente minha -, onde a nossa nova família começou, onde a vida foi leve, foi pesada, mas, acima de tudo, onde me conheci, onde conheci minhas filhas, onde passei um tempo que jamais tinha passado com elas (e não tenho vergonha, sei que não sou a única).
Elas - as filhas -, vão para essa mesma praia que deu início a tudo, que vai ser parte de um ciclo (espero) muito longo da vida delas, passar o mesmo final de ano que tantas vezes passei. Eu ficarei aqui, me movendo para o próximo início, acreditando que, dessa vez, vai ser realmente uma virada de ano, e não somente um dia após o outro, aguardando que 2017 seja o começo de outro longo ciclo - e não tenho pressa para saber do final (não quero final).

Feliz 2017

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Nem tudo de novo

Se eu faria tudo de novo?
Provavelmente não.
Ah, o assunto? Filhos.

Não me entendam mal, a questão não é em relação às minhas filhas, que são duas crianças maravilhosas, inteligentes, com saúde e tudo mais. É em relação ao mundo. Ou melhor, antes fosse em relação ao mundo. Nossos problemas estão cada vez mais próximos, nossa cidade cada vez mais violenta, mais cara e mais doente. A peste está no nosso pátio.
Bom, mas voltando ao filhos... Sou bem franca, para o pavor da ala materno-romântica, mas eu, assim como ao menos metade das mulheres, tive minha primeira filha no intuito de ter filhos, muito mais do que ser mãe. Para perpetuar a existência, para provar que era capaz de gerar, de parir, para colocar mais avós no mundo, para não ter que me incomodar em responder pela enésima vez que ainda não estava na hora (mesmo que não haja propriamente a hora), para contentar meu egoísmo de ter uma criança minha, para me enquadrar na sociedade. Fui ser mãe mesmo bem depois, e eventualmente ainda me sinto despreparada, mais para madrasta.
Arrependimento? Não diretamente. Me arrependo de não ter saído do país, de não ter migrado para, depois, ter multiplicado.
Útero não é sentença, não está escrito em nenhum lugar que seja obrigação usá-lo. Se você não quer, parabéns, assumir e manter a posição é louvável! Claro, não há em nenhuma outra relação o amor de uma mãe para com os filhos, mas, como tudo na vida, é uma questão de escolha, não se pode ter tudo.
Agora, se você pretende gerar uma criança, aí vão alguns (mais uns) conselhos. Não é fácil, não tem férias, não tem fim. Seu tempo não é seu, sua agenda não é sua. Tenha - da sua ou de outra barriga, isso não faz diferença - porque quer, não porque querem, não porque é socialmente recomendado, não porque quem sabe isso te torne uma pessoa melhor.
Tenha para amar e criar um ser humano que, quem sabe, mesmo com todos os nossos erros e culpas, seja suficientemente amado e educado e orientado para seguir pelos melhores caminhos. Mas tenha ciência de que essa pessoa não é "sua"; mesmo que ela tenha a melhor base, ainda poderá ir pelos piores caminhos. Se puder, tenha em um país onde haja respeito, onde as pessoas não façam questão de andarem armadas, por não precisarem, preferencialmente um país diplomaticamente neutro, um lugar de paz.
Uma colega dizia que, mesmo o mundo estando desse jeito (e olha que ele estava "menos pior"), nós, as pessoas de bem, deveríamos sim dar à luz, já que de maldade a vida estava cheia. Pois bem, em dois anos de UTI de trauma, em uma cidade cada vez mais violenta, descobri que não necessariamente isto adianta, que não sei bem se acredito.

Pessoas de bem morrem com um tiro. Pessoas do mal sobrevivem à dez.