sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Porto Alegre, 8 de agosto de 2001.

Olá!
Infelizmente sei que esse texto não chegará até você, mas, de qualquer forma, a Patrícia de 20 anos não daria ouvidos a ninguém, és muito cheia da razão.
A fase não anda das melhores e posso adiantar que piorará um pouco, já que esse motoqueiro maluco vai simplesmente te dispensar (quem ele pensa que é???), sempre tem a primeira vez. Bodas chegando, estás entrando na fase de não querer mais comemorar, né? Pois tua festa de aniversário estará longe de ser boa, porém um pouco melhor que a do ano passado, que caiu no dia dos pais.
Sobre esse assunto, ainda terão muitas decepções e a confirmação de que aquele pai morreu. Esse novo modelo vai se vestir com roupas de marca, comer fora, decorar seu novo apartamento e, ao contrário do que jurou de pés juntos, ter uma filha - por vontade dele, por vontade dela ou por uma questão de honra, uma vez que a sua parceira declarou que, em 2005, engravidaria com ou sem ele, em frente de quase toda família. Meu pai não aceitaria uma afronta dessa, o novo, sim.
Pode parecer que não, mas tu te formarás e será uma boa enfermeira. Não a melhor, nem a pior, mas alguém que gosta do que faz. Vai continuar falando demais, mas aos poucos se dará conta que é melhor deixar passar.
Família? Não tem milagre! As dificuldades vão seguir, pessoas queridas vão entrar e sair, a pensão vai dar mal para pagar todas as contas, tua irmã também vai entrar na UFRGS, tua mãe vai terminar o colégio, os velhos amigos cães vão descansar, alegrias, conflitos...
Minha intenção, porém, é chamar tua atenção para aquele rapaz que achaste interessante em uma certa reunião do CLJ, há uns meses atrás. Achou que ele tinha potencial para ser o pai dos teus filhos? (filhas, adianto) Mais que certa, mas ainda vai demorar um pouco para sentir-se assim. O moço é arredio, vai jogar fora o primeiro email e ler o seguinte por acaso; vai fazer cara de paisagem quando ouvir - ou melhor, ler - o primeiro "eu te amo"; vai falar da ex e que seus relacionamentos não passaram de três meses, isso nos primeiros encontros.
Como então? Ele vai esperar um ano para dizer, romanticamente, que te ama; vai te fazer gostar de Carnaval uma vez na vida; vai te apresentar um monte de músicas que tu nunca ouviu - e dizer com um ar de superioridade "tu não conhece essa música?"; vai te levar para acampar, para caminhar pelo centro a noite; vai levar teu coração embora para outro estado; vai te fazer feliz.
E vai te ensinar o que, realmente, é o amor.
Vai te conhecer melhor que tu mesma; vai perceber que não estás bem antes de ti; vai perdoar erros imperdoáveis; vai juntar teus pedaços, mesmo como coração estraçalhado. Vai ser namorado, amigo, noivo, ex-noivo, marido, quase ex-marido e o pai das tuas filhas.
Queria poder dizer para a Patrícia de 20 anos que sim, esse será o homem da vida dela, que ela cuide dele melhor do que eu cuidei, mas não é possível.
Será assim que aprenderás o que é Amor.

Mana mana mana

Dona Helena anda a 10 mil por hora, ligada na tomada! Enquanto as enormes pestanas não pesam e fecham os seus olhos, lá está ela a correr - porque caminhar não sabe mais - e a falar! Nesse meio tempo muitos beijinhos e conversas com a Maaaaaaaaaaaanaaa (e que Deus proteja Beatriz das perebas escolares...).
Mais teimosa que uma mulinha empacada, anda beirando uma certa falta de educação, o pior, não por falta de investidas e estadas de 2 minutos no seu banquinho. Já aprendeu que é linda e tem o poder de derreter corações, quando apronta alguma, em segundos, sai com um "abaaaaço, Mãe!". Muito sangue frio para resistir.
Ama a escolinha, não tem vergonha de demonstrar que recebe beijos de um certo Bernardo, vira e mexe fala no Meme (o Guilherme) e já anda a nomear as profes e demais colegas. Digo já não pela idade que tem, mas sim pelo pouco tempo que desandou a falar, coisa de um mês.
Divertiu-se muito nas férias de julho. Fomos para a casa dos avós, juntamente com o primo Be (Benaaaaaaaaaaaaaaaaaaaado); a semana nos rendeu muitas risadas e a certeza de que os próximos verões serão únicos! E sem beira mar coletiva, a não ser que sejam contratados reforços: são três crianças, mas, depois de umas horas, parecem bem mais!!!
Como irmã não temos do que nos queixar. No começo fazia tudo e mais dois poucos enquanto amamentava a mana, mas atualmente já percebeu que não precisa ser assim. Muitos beijos, alguns abraços e só uma tentativa de beliscão. Beatriz derrete-se em sorrisos e Helena entra na onda, "aguagu" ela diz, e a gringuinha responde.
Nossa alemoa mais linda desse mundo.

Beatriz²

Tanto ameaçou-se a rica criaturinha, que da barriga não queria mais sair! Foram quase dois meses de tensão, torcendo para que ficasse onde estava, mas por fim a torcida já era contrária. Novamente acabou a minha paciência gestacional, somado a isso uma ausculta cardíaca meio desagradável no exame da obstetra, e lá fomos nós para a ocitocina.
Dizem os livros que, quanto maior a paridade, mais rápido o parto. Pois meu corpo não concordou, e respondeu um pouco mais vagarosamente do que gostaríamos: das 23h às 05h08, centímetro a centímetro, assim ia a minha natureza. Eu bem resignada a não fazer analgesia, aguentando as muitas contrações bem, até dona Beatriz resolver aprontar com uma sutil queda do ritmo cardíaco; conhecendo o anestesista de plantão, que, nem de longe era da minha confiança, acabei por solicitar a tal analgesia para ter o médico da minha confiança por perto.
Digo que acabou tudo bem, fiz analgesia com 8cm, 15 minutos e uma força depois estreava minha pseudo pardinha. Nasceu a cor da mãe e a cara da mana, e posso dizer que foi amor a primeira vista!
Hoje em dia está tão ou mais branca que a irmã, a cara da dinda, tem lindas bochechas rosadas e chora como se estivesse correndo risco de vida por pouco mais que nada. Começou a pegar direito no peito não faz muito, já teve pneumonia e bronquiolite, chupa bico desde um mês (porque somente o colo em tempo integral resolvia) e destesta ficar sozinha.
Para compensar, tem o sorriso banguela mais lindo do mundo, os mais doces olhos de cor indefinida que eu já vi e os assuntos mais atualizados para as suas conversas movidas a gritinhos e agus.

E foi assim...

Nossa, muito tempo! Tive que fazer um "mini-flashback", como diriam Rui e Vani, para me achar nas informações!
Muita coisa aconteceu de março para cá. Beatriz aconteceu, no tempo mais que certo, depois de muito repouso, uma indução de parto e alguns momentos de tensão; era a confirmação de que a moça iria querer tudo ao seu jeito. Humpf.
Desde então, como profetizou Mena, a vida tem sido bem cheia - transbordante, muitas vezes -, um tanto cansativa, mas repleta de alegrias. Teve mastite, pneumonia, duas filhas doentes ao mesmo tempo, mãe gripada, inverno mais frio dos últimos tempos, internação por bronquiolite... no momento atual só um pouco de ranho e conjutivite para dona Helena, mas, como auxílio da Nona, isso tira-se de letra!
A vida vai indo, cada vez mais recheada de novidades e alegrias.
É, com um filho eu tinha tempo, e não sabia!