segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Guardados I

Sou uma devedora.
Não de dinheiro, porque esse o trabalho nos dá, mas de algo muito mais difícil de pagar.
Devo amor, devo carinho, devo elogios, devo minha vida. E quase tudo para os mesmos credores.
Não deixo de pagar por não ter moeda, mas sim por não saber trocá-la, convertê-la em algo palpável. Vou guardando-as para mim, mas isso não me enriquece, somente torna mais pobre quem deveria ser pago.
Às vezes consigo fazer o câmbio, e distribuo pequenas porções de atenção, mas logo minhas reservas acabam, e continuo colocando tudo no meu “caderninho”, contabilizando corações, sorrisos e abraços que recebi e não retribuí adequadamente. Estou quase sempre no negativo.
Questiono-me como ainda não perdi o crédito com meus bons pagadores e posso concluir , tão somente, que eles são muito ricos! Afinal, diferentemente do $$$, quanto mais damos, mais temos!
Se funciona dessa forma comigo? Acho que não, meu feedback tem um certo defeito... Gratifica muito ver que uma palavra, um abraço ou um simples olhar podem fazer valer o dia, mas parece que depois de distribuir alguns poucos, perco o jeito.
Racionalmente falando, conheço bem as pessoas que me cercam, sei do que elas precisam, mas me sinto pobre, porque não consigo dar-lhes nem metade do que recebo. Bom, e mesmo que não me dessem nada, é muito menos do que merecem.
Há sempre um "mas"...
Começo a entender a coisa estranha.
(Agosto, 2008)

Um comentário:

  1. Esse texto é lindo e triste... Não sei se colocou ele aqui justamente pelo momento... mas...
    Conheço outro devedor com contas bem maiores do que as tuas...
    Mas ainda não entendo as coisas estranhas...
    Beijoooo Cunha... és bem melhor nas palavras escritas e desta forma sabe pagar o que deve, não te preocupa!

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